

Há anos fui mordida pela vontade e pelo desafio de preparar pães sem usar o fermento instantâneo comprado em mercado, ainda no tempo em que eu preparava meus não-intencionais pães-pedra (como dizia Madi, minha avó materna, "pão que faz dentinho de ouro").
Acho que a vontade veio mesmo porque essa proposta parecia pra mim tremendamente desafiadora. Praticamente uma experiência científica (o que aliás, de fato ela é).
Até encontrar o blog Wild Yeast, nunca tinha me dado conta de que o fermento é na verdade uma cultura de micróbios que vive no ar. Esse mesmo, o ar puro e limpinho - ou nem tanto assim - que inspiramos pelas narinas em qualquer lugar do mundo.
Que descoberta sensacional! Que perspectiva nova. Mesmo.
Mas aí, experimentando, testando, tomando notas, teimando em não gastar meu dinheirinho suado em livros excelentes-porém-caros (que a bem-amada biblioteca municipal não empresta, deixa apenas ler no local), ou cursos que entrem na mesma categoria, só agora estou entendendo um pouco mais como fazer a coisa funcionar. Muitas vezes é assim com os novatos: ou precisam ser bem insistentes, ou precisam pagar para que alguém ensine. É claro, fazer pão é o tipo do conhecimento que está em todo lugar (da mesma forma que os levedos estão), mas é meio difícil de apreender. Toda avó sabe. Sempre tem uma tia que sabe, um vizinho, enfim. Mas acho que a dificuldade mora no fato de que fazer pão é algo muito intuitivo e sensorial.
Quando se pega o jeito da coisa mesmo, se faz sem medir nada, e aí dá trabalho explicar.
Você pergunta: "Deixa crescer por quanto tempo?"
E te respondem: "Ahh, até ficar bem fofinho". E você lá, perdidão, sem saber se ficou fofinho o suficiente ou se já passou do ponto.
Nestes textos sobre pão sem fermento instantâneo, vou tentar fazer a ponte entre os padeiros experientes que não tem muito jeito pra explicação, e os explicadinhos que não tem experiência em fazer pães ainda.